O geneticista Theodosius Dobzhansky afirmou, em 1973, que “nada em biologia faz sentido a não ser sob a luz da evolução”. Tendo isto em vista, a compreensão minuciosa da Teoria Evolutiva é de fundamental importância para todos aqueles que têm a pretensão de se denominar cientistas e se faz ainda mais relevante para aqueles que pretendem intitular-se biólogos. A formação profissional que temos culmina imensamente na responsabilidade de divulgar de forma correta a informação e de educarmos, da mesma maneira, nossos futuros alunos ou mesmo aqueles que não serão denominados alunos, mas que ainda assim nos tomarão como educadores e informadores.
Um dos grandes problemas que encontramos dentro de salas de aula e mesmo, ou ainda mais, fora delas é a linguagem teleológica (ou finalista) que permeia a concepção direcional e progressiva do processo evolutivo. Um dos mais difundidos - e piores - exemplos deste tipo de pensamento é aquela iconografia quase canônica de um ser humano seguido por outro representante do gênero Homo, sendo este seguido por um Australopithecus e este, por fim, sendo seguido por um macaco (muitas vezes platirrino) ou mesmo por um chimpanzé. Tal imagem é tão abarrotada de erros que causa respulsa em muitos biólogos (e também a não biólogos) evolutivos. Devemos compreender que a visão progressista expressa por essa imagem está completamente errada. Apesar de não gostarmos, temos que entender que o ser humano não é, de forma alguma, o opus magnum da natureza, o ápice do processo evolutivo. Além disso, tentar inferir qualquer tipo de diferenciação a partir de um táxon terminal para outro é um equívoco estrondoroso. Não somos, de maneira alguma, descendentes dos chimpanzés ou dos bonobos ou de qualquer outro animal que conheçamos. Este tipo de inferência errônea pode ser facilmente evitada a partir da abordagem filogenética e do uso de cladogramas para o entendimento do processo.
Um dos grandes problemas que encontramos dentro de salas de aula e mesmo, ou ainda mais, fora delas é a linguagem teleológica (ou finalista) que permeia a concepção direcional e progressiva do processo evolutivo. Um dos mais difundidos - e piores - exemplos deste tipo de pensamento é aquela iconografia quase canônica de um ser humano seguido por outro representante do gênero Homo, sendo este seguido por um Australopithecus e este, por fim, sendo seguido por um macaco (muitas vezes platirrino) ou mesmo por um chimpanzé. Tal imagem é tão abarrotada de erros que causa respulsa em muitos biólogos (e também a não biólogos) evolutivos. Devemos compreender que a visão progressista expressa por essa imagem está completamente errada. Apesar de não gostarmos, temos que entender que o ser humano não é, de forma alguma, o opus magnum da natureza, o ápice do processo evolutivo. Além disso, tentar inferir qualquer tipo de diferenciação a partir de um táxon terminal para outro é um equívoco estrondoroso. Não somos, de maneira alguma, descendentes dos chimpanzés ou dos bonobos ou de qualquer outro animal que conheçamos. Este tipo de inferência errônea pode ser facilmente evitada a partir da abordagem filogenética e do uso de cladogramas para o entendimento do processo.

Dizer que determinadas estruturas e caracteres surgiram “para” exercer determinada função torna-se insustentável quando fazemos a abordagem evolutiva adequada à utilização de cladogramas e filogenias. O termo “exaptação”, proposto por Stephen Jay Gould e Elizabeth Vrba em 1982, faz com que o pensamento teleológico seja visivelmente incoerente. Exaptação nada mais é do que uma adaptação que não evoluiu dirigida por pressões seletivas relacionadas à função que exerce atualmente em seu portador. O caso clássico do aparecimento das penas em aves é um belíssimo exemplo de exaptação. Primordialmente as penas exerciam uma função muito mais termorregulatória do que locomotora. Aliás, foi só algum tempo após o aparecimento das penas que seus portadores começaram a planar e, posteriormente, a voar. É claro que as penas de função térmica tinham uma estrutura muitíssimo mais semelhantes às atuais plumas das aves do que ao que pensamos ao falarmos de penas. Inúmeros outros casos de exaptação podem ser identificados na natureza, como a dormência em sementes de Erythrina vetulina, que apresenta um complexo reprodutivo bastante interessante.
Mais uma ferramenta poderosa com que devemos trabalhar são as chamadas “convergências”. Convergências são características ou atributos semelhantes que evoluem em grupos não proximamente aparentados. Outro nome que essas características recebem (e que muitas vezes é usado com maior frequência) é “analogia”. Estruturas análogas ou convergentes são estruturas que apresentam mesma função, “moldadas” por pressões seletivas com alto grau de semelhança. Como exemplo temos a forma hidrodinâmica em Osteichtys, cetáceos e Ichtyosauros. Grupos relativamente distantes apresentam características bastante parecidas e com funções similares, entretanto sem uma base gênica semelhante. Outro caso de grande beleza são os paralelismos (ou evoluçao paralela). Podemos ressaltar como exemplo deste tipo de fenômeno a presença de halteres, também chamados de balancins, em diferentes ordens de insetos. Diptera, a ordem a que pertencem as moscas, mosquitos, mutucas, etc., possuem uma estrutura chamada halter com a função de manter um voo equilibrado. Esta estrutura nada mais é do que o par de asas modificado e reduzido. Outro grupo de insetos, da ordem Strepsiptera, também apresenta este mesmo atributo, um par de asas reduzido modificado em halteres com função de equilíbrio em sua locomoção. Contudo, ao observarmos os dois animais, podemos reparar facilmente que Diptera apresenta o par posterior de asas modificado em halteres enquanto que Strepsiptera apresenta o par anterior de asas com essa modificação. O grupo gênico responsável pelo surgimento de halteres no lugar de asas é o mesmo nos dois grupos de animais. A característica “presença de halteres” é um paralelismo entre os dois grupos de animais, Diptera e Strepsiptera.
Além destes exemplos de convergência e paralelismo, muitíssimos ainda podem ser citados, como a presença de espinhos nas famílias Euphorbiaceae e Cactaceae de vegetais, sendo a primeira africana e a segunda norte-americana; os olhos com retina de polvos e de vertebrados, e muitos outros infindáveis exemplos. Desta maneira, fica óbvio que o estudo e a compreensão do processo evolutivo não devem, de maneira alguma, restringir-se às aulas de Evolução. Fica arrebatadoramente claro que todos os ramos da Biologia se interligam e que realmente não há sentido algum em olharmos apenas para células, plantas, animais, moléculas de DNA ou o que quer que seja sem compreendermos o real plano de fundo de toda a ciência da vida.
Bibliografia
www.agencia.fapesp.br/materia/12055/especiais/esperteza-vegetal.htm – Acessado em 01/06/2010
www.charlesmorphy.blogspot.com – Acessado em 01/06/2010
pt.wikipedia.org/wiki/Exaptação – Acessado em 01/06/2010
DAWKINS, R. 2009 A Grande História da Evolução
DOBZHANSKY, T. 1973 Nothing in Biology Makes Sense Except in the Light of Evolution
SANTOS, C. M. D. & CALOR, A. R. 2008 Using the logical basis of phylogenetics as the framework for teaching biology
Mais uma ferramenta poderosa com que devemos trabalhar são as chamadas “convergências”. Convergências são características ou atributos semelhantes que evoluem em grupos não proximamente aparentados. Outro nome que essas características recebem (e que muitas vezes é usado com maior frequência) é “analogia”. Estruturas análogas ou convergentes são estruturas que apresentam mesma função, “moldadas” por pressões seletivas com alto grau de semelhança. Como exemplo temos a forma hidrodinâmica em Osteichtys, cetáceos e Ichtyosauros. Grupos relativamente distantes apresentam características bastante parecidas e com funções similares, entretanto sem uma base gênica semelhante. Outro caso de grande beleza são os paralelismos (ou evoluçao paralela). Podemos ressaltar como exemplo deste tipo de fenômeno a presença de halteres, também chamados de balancins, em diferentes ordens de insetos. Diptera, a ordem a que pertencem as moscas, mosquitos, mutucas, etc., possuem uma estrutura chamada halter com a função de manter um voo equilibrado. Esta estrutura nada mais é do que o par de asas modificado e reduzido. Outro grupo de insetos, da ordem Strepsiptera, também apresenta este mesmo atributo, um par de asas reduzido modificado em halteres com função de equilíbrio em sua locomoção. Contudo, ao observarmos os dois animais, podemos reparar facilmente que Diptera apresenta o par posterior de asas modificado em halteres enquanto que Strepsiptera apresenta o par anterior de asas com essa modificação. O grupo gênico responsável pelo surgimento de halteres no lugar de asas é o mesmo nos dois grupos de animais. A característica “presença de halteres” é um paralelismo entre os dois grupos de animais, Diptera e Strepsiptera.
Além destes exemplos de convergência e paralelismo, muitíssimos ainda podem ser citados, como a presença de espinhos nas famílias Euphorbiaceae e Cactaceae de vegetais, sendo a primeira africana e a segunda norte-americana; os olhos com retina de polvos e de vertebrados, e muitos outros infindáveis exemplos. Desta maneira, fica óbvio que o estudo e a compreensão do processo evolutivo não devem, de maneira alguma, restringir-se às aulas de Evolução. Fica arrebatadoramente claro que todos os ramos da Biologia se interligam e que realmente não há sentido algum em olharmos apenas para células, plantas, animais, moléculas de DNA ou o que quer que seja sem compreendermos o real plano de fundo de toda a ciência da vida.
Bibliografia
www.agencia.fapesp.br/materia/12055/especiais/esperteza-vegetal.htm – Acessado em 01/06/2010
www.charlesmorphy.blogspot.com – Acessado em 01/06/2010
pt.wikipedia.org/wiki/Exaptação – Acessado em 01/06/2010
DAWKINS, R. 2009 A Grande História da Evolução
DOBZHANSKY, T. 1973 Nothing in Biology Makes Sense Except in the Light of Evolution
SANTOS, C. M. D. & CALOR, A. R. 2008 Using the logical basis of phylogenetics as the framework for teaching biology