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domingo, 12 de junho de 2011

Herbivoria dentro de um grupo estritamente carnívoro


Bagheera kiplingi é uma papa-moscas (Salticidae) descoberta no ano de 2009, que alimenta-se de uma forma bastante diferente das aranhas conhecidas até o momento. Esta é a primeira espécie de aranha a ser descrita que alimenta-se preferencialmente de corpúsculos vegetais (“beltian bodies”). Habitante das florestas da Costa Rica esta espécie de aracnídeo explora uma relação mutualística entre as espécies vegetais Acacia spp. e algumas formigas do gênero Pseudomyrmex. Esta relação consiste da planta prover as formigas de alimento (os corpúsculos beltianos), e as formigas conferirem à planta proteção contra parasitas e herbívoros.
Através de observações diretas e análises de isótopos radioativos, Meehan e coloboradores (2009) puderam realizar o primeiro registro de uma aranha que alimenta-se primariamente de plantas. B. kiplingi vive nas emediações de acácias e sobem nestas plantas para alimentarem-se. Entretanto as formigas habitantes desta planta apresentam uma grande ameaça à aranha. Assim esta têm de esperar o momento certo para “assaltar” o item que lhe interessa e, após alcançado, deve fugir rapidamente, evitando ser pega.

Bibliografia
Meehan, C. J., Olson, E. J., Reudnik, M. W., Kyser, T. K., Curry, R. L. 2009 Herbivory in a spider trough exploitation of an ant-plant mutualism. Current Biology Vol. 19 No. 19

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Aranhas papa-mosca (Salticidae), sua origem e evolução


Em um trabalho publicado no ano de 2010, David Penney discute a relevância do estudo de Hill e Richman, que através de dados genéticos e morfológicos inferiram que a origem do grupo de aranhas deu-se no Cretáceo-Superior (cerca de 90 milhões de anos atrás). Contudo critica que não foram levados em conta dados paleontológicos que corroborassem tal afirmação. Assim como estes dois cientistas, outros mencionam a existência de fósseis de salticídeos provindos de formações rochosas do Cretáceo coletados em Nova Jersey, França e Jordânia. Entretanto tais fósseis foram identificados erroneamente, levando a interpretações duvidosas da história evolutiva destes animais. Ainda assim nenhum dos três fósseis foi citado no trabalho de Hill e Richman.
Contudo registros fossilíferos de salticídeos são bastante frequentes nas regiões Bálticas e na República Dominicana, aparecendo no interior de âmbar e datando do Terciário (a partir de 65 milhões de anos atrás). Tal abundância pode ser explicada pelo fato de papa-moscas serem aranhas orientadas, predominantemente pela visão, sendo atraídas por insetos aderidos às resinas grudentas de plantas e acabando por serem presas também. Desta forma, a preservação em âmbar destes animais aparenta ser bastante recorrente. Assim sendo deveriam ser também abundantes no Cretáceo-Superior, caso existissem, o que não parece ser verdade.
Além disso, se este grupo existisse e fosse tão bem distribuído, como é sugerido, sua distribuição deveria ser ampla, atingindo toda Pangea. Todavia observamos que as distribuições do grande grupo a que pertencem as aranhas papa-moscas (Salticoida) acompanham os limites dos continentes modernos, refutando a origem Mesozóica de tal grupo.
Hill e Richman discutem em seu trabalho o grande motivo responsável pela alta e rápida diversificação do táxon, resultando nas 5.293 espéceis distribuídas em 570 gêneros atualmente conhecidos. Eles hipotetizam que os climas tropical e sub-tropical durante o Terciário impeliram a diversificação do grupo, culminando nesta grande diversidade. Porém a maioria das floresta de âmbar do Cretáceo cresceram sob condições semelhantes, e ainda assim não há registro fóssil de Salticidae neste período. Deixando a situação ainda mais misteriosa e enigmática a escassez de fósseis destas aranhas nas épocas mais antigas do Cenozóico, como o Eoceno (cerca de 50 milhões de anos atrás), sendo conhecida uma única subfamília de Salticidae desta época, enquanto quatro ocorrem no Mioceno, sugerindo que a diversificação destes aracnídeos tenha realmente ocorrido no período Cenozóico.
Contudo não devemos excluir completamente a possibilidade da origem ter se dado no Mesozóico e as pesquisas em busca de uma Salticidae do Cretáceo deve continuar. Nas palavras do autor, “A busca pela papa-mosca do Mesozóico tem sido, e continuará sendo, um dos santo graais da paleoaracnologia”.
Referências
HILL, D. E. & D. B. RICHMAN. 2009. The evolution of jumping spiders (Araneae: Salticidae): a review.
PENNEY, D. 2010. The evolution of jumping spiders: paleontological evidence.
PLATNICK, N. I. 2010. The world spider catalog, version 11.0. American Museum of Natural History, online at: http://research.amnh.org/entomology/spiders/catalog/index.html